Celtas, ou não ? Problema identitário do norte de Portugal

 

 

O termo "celta" refere-se, geralmente, a um grupo de povos antigos que habitavam várias regiões da Europa e partilhavam certas características culturais, linguísticas e religiosas.

Tradicionalmente, os celtas são associados ao uso das línguas célticas, e a elementos culturais comuns encontrados em áreas como a França, as Ilhas Britânicas e partes da Europa Central e da Península Ibérica. A cultura celta caracteriza-se muito pelo desenvolvimento da arte ‘’decorativa’’ (especialmente os motivos curvilíneos e espirais), práticas religiosas e rituais específicos, e pela organização social em tribos guerreiras.

No entanto, é importante salientar que "celta" é um termo genérico e, muitas vezes, simplificador. O termo celta ignora a diversidade de identidades culturais que existiam em diferentes regiões e que, apesar de apresentarem influências ou traços comuns, possuíam tradições e modos de vida únicos. Ou seja, o termo “celta” pode se referir mais a uma vasta rede de trocas culturais e influências do que a um único e coeso grupo étnico ou cultural.



A cultura castreja desenvolveu-se especialmente nas regiões montanhosas do norte de Portugal e da Galiza, caracterizando-se por assentamentos fortificados conhecidos como castros. Esses castros apresentam uma arquitetura circular, com casas de pedra e uma organização que sugere uma sociedade complexa, talvez a mais complexa das sociedades pré romanas. A cultura castreja tornou-se um fator identitário no norte de Portugal desde o seculo passado, nos dias de hoje é comum ouvir muitas referências aos ‘’celtas’’ pelo norte, em alguns locais ‘’revieram-se’’ supostas tradições como batizados celtas e outras festas, talvez isto não seja muito correto, o termo celta traz uma imediata associação aos povos ditos ‘’celtas’’ da europa central e das ilhas britânicas, isto pode gerar grandes confusões, muitas vezes estes revivalismos históricos que verificamos no norte estão na verdade a reanimar tradições de origem irlandesa ou britânica, sobre o pretexto que ambos os povos eram ‘’celtas’’

 

Arqueologicamente, a cultura castreja apresenta certos elementos que podem ser considerados "celtas", como ornamentos decorativos, armas e práticas que lembram as dos povos celtas da Europa Central.

 a pedra formosa da citania de briteiros, um exemplo de ''arte'' celta em contexto castrejo

As semelhanças culturais e materiais entre a cultura castreja e as culturas celtas podem ser explicadas por influências comerciais e culturais ao invés de uma verdadeira identidade celta. Como a Península Ibérica era uma rota comercial estratégica, é provável que os castrejos tenham adotado e adaptado certos elementos celtas, sem, no entanto, serem celtas no sentido estrito.




Isto porque não há evidencias claras de uma grande invasão que substituísse os povos indígenas, é muito mais provável que os povos indígenas da idade do bronze, com influencias do centro da europa devido talvez ao comercio, desenvolveram a cultura castreja com alguns elementos semelhantes aos celtas, é no entanto muito pouco provável que houvesse uma ligação étnica ou genética entre estes povos, há no entanto uma clara ligação linguística, talvez da mesma maneira que o latim evoluiu para português, castelhano, italiano etc, o ramo das línguas celtas tenha evoluído também, sugerindo assim um antepassado mais antigo comum entre os castrejos e os povos do resto da europa

É no fundo um problema com o termo ''celta'', um termo que generaliza e que pouco significa, respondendo á pergunta incial, os castrejos não eram o mesmo povo que os celtas da gália, nem da irlanda ou das ilhas britânicas, eram no entanto talvez primos, e conservavam uma língua e talvez uma mitologia e cultura semelhante, mas não eram o mesmo povo, meter todos esses povos no mesmo saco e chamar-lhes celtas é talvez a mesma coisa que chamar aos portuguesês, aos espanhois, franceses e italianos de romanos.




Em suma, se considerarmos que ser celta é falar uma lingua celtica e seguir uma tipologia artistica, então sim, os castrejos eram celtas, mas se considerarmos que celta é descendente genético da cultura de hallstatt e la téne então muito provavelmente não, ou pelo menos não inteiramente, não pondo de fora a hipotese alguma migração ter ocorrido, mas nunca a substituição da população indigena da idade do bronze.



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