Idade do Bronze

A Idade do Bronze em Portugal: Resumo




Contextualização:

 A descoberta do bronze é uma das grandes revoluções da humanidade, este metal mudou a dinâmica sociopolítica de toda a Europa, para produzir bronze, é necessário misturar cobre com estanho, ambos são relativamente raros na natureza, estando limitados a certas regiões geográficas, enquanto o cobre poderia ser minerado nos alpes ou no Alentejo, o estanho teria de ser extraído de Trás-os-Montes ou do sul da grã bretanha







Mapa de distribuição dos minérios explorados na idade do bronze na europa



naturalmente, a produção do bronze exige a intercomunicação entre vários povos, exige vastas redes de trocas que conectem os povos desde o mar báltico até ao médio oriente, o bronze permitiu também revolucionar a agricultura, as foices e os machados de bronze tornam se objetos comuns e aumentam a eficiência da produção agrícola



Machados e foice de bronze





verifica-se na idade do bronze também uma revolução espiritual, por toda a europa surgem novos rituais funerários, é possível que devido ao aumento populacional que se verificou na idade do bronze, em conjunto com a comunicação entre diversos povos de toda a europa, surjam novas maneiras de interpretar o mundo divino



Vasos de largo bordo caracteristicos em contexto funerario em portugal



pelo médio oriente surgem grandes civilizações, civilizações estas que já praticam a escrita, e são, tecnologicamente e politicamente, muito mais avançadas que as comunidades que habitavam em Portugal


A idade do bronze em Portugal dura desde o final do segundo milénio antes de cristo até aproximadamente 700 A.C. a idade do bronze acaba com a generalização da produção do ferro em portugal, o conceito de ''idade do bronze'' não é igual em todas as regiões, não se refere tanto a um periodo cronologico quanto a um conjunto de sociedades onde o bronze ainda têm mais importancia que o ferro


Espada (Pedrogão, Alentejo) e colar (Penela, Coimbra) datados á idade do bronze encontrados em portugal










Em Portugal:

É crucial salientar o quão pouco realmente sabemos sobre a idade do bronze em Portugal, enquanto na idade do ferro podemos consultar autores clássicos, na idade do bronze estes deixaram nos muito pouca informação acerca dos territórios portugueses, por este motivo a arqueologia é a principal fonte de conhecimento sobre esta época, surge assim um problema quanto á interpretação da idade do bronze, os arqueólogos nem sempre concordam nas suas leituras do espólio deixado por estas comunidades, todos os objetos estão sujeitos a uma interpretação, ao desenterrar uma espada de bronze durante uma escavação, sabemos que é uma espada, mas não podemos assumir que a comunidade que a produziu utilizaria esse objeto como espada

um fenómeno que efetivamente se verifica em Portugal é o surgimento de espadas, espadas essas que seriam incrivelmente complicadas de produzir com a tecnologia da época, porém as espadas estão sem qualquer marca de uso, é como se tivessem sido feitas e logo de seguida enterradas, na verdade, a maioria das espadas datadas á idade do bronze em Portugal não têm marcas de uso, isto leva os arqueólogos a ter uma série de interpretações; as espadas seriam um objeto simbólico para as comunidades da idade do bronze, um objeto usado pelas elites para demonstrar o seu prestigio, sem qualquer função no combate, ou talvez o enterro de espadas aparentemente novas fosse algo ritual? Como uma oferenda a alguma entidade, ou será que quem fez a espada escondeu-a, e por um motivo ou outro nunca a voltou a ir buscar?



As interpretações são imensas e raramente há concórdia em relação á idade do bronze.Verifica-se na idade do bronze um inconfundível processo no entanto, as populações começam a habitar em locais de altitude, cabeços bastante destacados na paisagem, cumes com ampla visibilidade dos territórios em volta, sabe-se hoje que os campos não foram abandonados de todo, mas efetivamente povoaram-se os cumes de praticamente todas as montanhas com grande visibilidade, principalmente com visibilidade para importantes corredores de passagem


Castro de Mourilhe, Montalegre
 Muro de Cunhas, Boticas

durante muito tempo os arqueólogos interpretavam o assentamento de povoados nos cumes como uma estratégia defensiva, tomando partido da inclinação das montanhas seria mais fácil defenderem-se de invasores, parece que esta é a interpretação logica especialmente depois de tomar em conta que grande parte destes povoados possuía também uma muralha que rodeava todo o cume do monte

restos de uma eventual muralha, castro de alvaiazere


porém cada vez mais arqueólogos discordam da motivação bélica por traz da habitação dos cumes, favorecendo a ideia de que a função destes povoados era a de controlo do território, defendem estes arqueólogos que existiria um povoado central localizado no cume de uma montanha, e em torno desse povoado existiriam pequenos casais agrícolas, sendo o povoado de altitude um local onde habitaria uma elite que controlaria o território e os caminhos, efetivamente grande parte dos povoados em altitude da idade do bronze têm excelente visibilidade para aquelas que seriam as rotas comerciais da época, estes povoados queriam ver e ser vistos, esta interpretação apoia-se também no facto das muralhas destes povoados serem geralmente muito pequenas e aparentemente inúteis em termos de defesa, possivelmente teriam apenas uma função de limitar o terreno, outro fator que favorece esta interpretação é a ausência de vestígios de combates nesses povoados

  povoado de são julião, vila verde, em posição de dominio visual sobre o rio homem e os territorios envolventes

 Castro no Cabeço da Argemela, fundão
 
Visibilidade do Castro de Côto dos Corvos, Montalegre



Ao escavar os povoados da idade do bronze não encontramos qualquer evidencia de grandes conflitos, encontramos no entanto evidencias de vastas redes de trocas, em Idanha-a-Velha por exemplo foi encontrada uma conta de colar de âmbar proveniente do báltico, as fíbulas características do mediterrânio surgem com bastante frequência também, vários cacos de cerâmica de origem micénica, o próprio bronze já obrigava as populações a terem estas vastas redes de trocas por isso é natural que estes objetos cheguem a Portugal.



É possível que os bens importados fossem vistos como objetos de elevado prestigio, é importante notar que a presença de materiais importados não implica contacto direto com o local de origem destes materiais, as cerâmicas micénicas encontradas na beira alta não implicam que andassem lá mercadores gregos, é também importante referir que a importação destes materiais não significa a importação da cultura e da sociedade




Mas certamente, se chegavam esses materiais de prestigio a Portugal, quem os trazia algo procurava em troca, é possível que os depósitos de estanho do norte de Portugal sejam um dos principais motivos de atração de comerciantes de toda a europa, porem as comunidades da idade do bronze produziam outros bens, o mapa que se segue é uma hipotese acerca dos principais bens produzidos por região (além da agricultura e da pecuaria que seria a principal atividade de todos os povos em portugal )


 Potenciais recursos explorados na idade do bronze em Portugal
 Povoados identificados da idade do bronze em portugal











Todos os sitios arqueologicos da idade do bronze em portugal

(Povoados, Necropoles, Achados isolados, Arte rupestre etc...)

A troca de bens era facilitada pelos rios de Portugal em grande parte navegáveis, que permitiam uma profunda penetração do território, serviam como autoestradas antigas

é também importante notar que muitos dos rios portugueses teriam um caudal muito maior que atualmente, usando o mondego como exemplo, este rio tinha um grande estuário que enchia todos os atuais campos agrícolas desde Coimbra até á figueira da foz, o mesmo se verificava com o tejo que também teria um caudal superior ao atual, todo o clima era diferente na idade do bronze, sabemos que Portugal era em geral muito mais húmido que atualmente
a azul está o atual caudal do mondego e rio velho, a verde seria toda a area inundada pelo antigo estuario do mondego, o mapa representa o troço entre coimbra e a figueira da foz
é possivel que a paisagem do baixo mondego fosse semelhante á atual reserva natural do paul de arzila, um pouco do estuario que foi conservado











Organização social:

 

É na idade do bronze que verificamos que a organização social começa a tornar-se mais complexa, nota-se a formação de ‘’classes’’ sociais diferentes, é possível que nos povoados de altitude habitasse apenas uma elite social que dominasse a produção do bronze, isto é meramente uma hipótese, verifica-se ainda que as sociedades da idade do bronze seriam relativamente igualitárias, não há evidencias por exemplo de habitações maiores para essas elites, no entanto, a posição de controlo visual destes povoados em altitude em conjunto com as evidencias de produção metalúrgica nos mesmos pode indicar esta hipótese, durante muito tempo a arqueologia acreditava que todas as comunidades da idade do bronze ocupavam os cumes das montanhas, sabemos agora que este não é caso, existiam unidades de exploração agrícola nos arredores destes cumes, no entanto dados vários fatores como a potencia estratigráfica (profundidade dos vestígios arqueológicos) estas unidades são mais difíceis de encontrar e estudar, quanto ás necrópoles verificamos que geralmente o mesmo ritual é aplicado a todos, sendo relativamente raro em Portugal encontrar espolio em contexto de enterro, e quando se encontra é quase sempre um espolio modesto, isto mudará na idade do ferro onde as diferenças sociais são mais evidentes
 




Braceletes de bronze encontradas em possivel contexto funerário, condeixa



A população, como já referido, ocupar-se-ia principalmente da agropecuária, na idade do bronze introduzem-se novas culturas como o painço ou milho miúdo, é possível que o modo de vida destas populações pouco diferenciasse do modo de vida de uma aldeia inserida numa serra do interior português no seculo XIX, Muda-se a língua, troca-se o ferro por bronze e os santos por deuses, mas os homens de ambos os tempos subiriam aos montes com os seus rebanhos, lavravam as terras com arados puxados por bois, as mulheres fariam roupas de linho e lã em teares, chegando aos dias de festa, possivelmente já celebrados na idade do bronze com outros pretextos, sacrifica-se um leitão, ou uma cabra, e toda a aldeia come em conjunto, tocam os gaiteiros e dançam os casais, bebia-se cerveja e hidromel em vez de vinho, é crucial salientar a importância dos ‘’rituais de comensalidade’’ na idade do bronze

 



cossoiro da idade do bronze, evidencia da produção de fio de lã







os arqueólogos novamente têm muito a dizer sobre a função dos ''rituais de comensalidade'', uns afirmam que estes rituais teriam o objetivo de impedir a acumulação de alimentos, e também riqueza visto que o gado fosse das riquezas mais importantes nesta época, assim chegando um dia festivo, come-se sem limites, com o intuito de não deixar a comida acumular, os rituais de comensalidade seriam importantes na formação de alianças e para fortificar laços sociais, não colocado estas interpretações fora de hipotese, mas claro que estes pontos de vista tentam dar um sentido logico e racional a algo que talvez não o tenha, talvez seja simplesmente a natureza humana que quer simplesmente divertir-se e comer á grande por uma noite, sem qualquer pensamento económico por trás, são momentos de convívio destes que possivelmente seriam os mais alegres momentos das vidas dos indivíduos da idade do bronze, teriam a oportunidade de contar historias á frente de toda a aldeia, ou simplesmente de comer e dançar e ouvir musica pela noite dentro, algo tão semelhante ainda aos dias de hoje, mas é certo que estas refeições em grupo eram importantíssimas para os povos, demonstram-nos as evidencias arqueológicas, foram encontradas panelas decoradas, bem como espetos de bronze com figuras zoomórficas cuidadosamente representadas



Espeto de bronze encontrado proximo do castro de alvaiazere, com uma figura de duas aves








                                              



                                                       ''Garfo'' da Solveira, Montalegre







Consideramos que a arte sempre acompanhou a humanidade, mas variou com os tempos, na idade do bronze em Portugal dominam os motivos geométricos, as joias, cerâmicas e por vezes os utensílios são decorados com formas geométricas, triângulos e linhas principalmente, não sabemos se estas formas teriam algum significado para as comunidades indígenas, mas vale a pena ver algumas imagens da arte da idade do bronze

Colar do tesouro da herdade do álamo












Metalurgia:


Interpretamos a metalurgia na idade do bronze como uma atividade domestica, generalizada e sem especialização, ou seja, todos os indivíduos eram capazes de produzir peças metálicas nas suas habitações, isto é nos evidenciado pela presença de ‘’gotas de fundição’’ de bronze espalhadas por toda a área dos povoados, gotas estas provenientes do processo de despejar o bronze em estado liquido nos moldes

Sabemos que na idade do bronze em Portugal as comunidades dominavam não só o bronze mas também o ouro e a prata, em alguns casos pontuais começam a surgir peças de ferro

A produção de peças de bronze era feita através de moldes de cerâmica, a peça seria esculpida no barro, depois coze-se o molde, deixa-se um buraco aberto para despejar o bronze, para objetos mais pequenos e detalhados usava-se o método da cera perdida: o objeto era esculpido em cera, depois a cera era envolvida em barro e durante a cozedura a cera derrete, deixando o molde da peça desejada

 

 




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